Foto: Siegfried Tremelo. m dos ensinamentos mais básicos da fotografia é a relação entre profundidade de campo e abertura de diafragma. De forma geral, nas DSLRs, quanto mais aberto estiver o diafragma, menor será a profundidade de campo da imagem, e vice-versa.
Assim, quando o fotógrafo pretende registrar uma imagem com mais planos focados, com o objetivo de deixar o objeto em cena todo em foco e mais nítido possível, geralmente a objetiva é regulada para aberturas como f/16, f/22 ou ainda mais fechadas. Conhecer a distância hiperfocal da objetiva também é outra forma de se conseguir foco a partir de uma posição até o infinito. Paisagens naturais, fotos de arquitetura e cenas cotidianas são temas que costumam pedir este tipo de regulagem.
Por outro lado, uma técnica que ajuda a destacar um objeto de interesse na imagem é deixar o segundo plano desfocado. Por isso, retratos e macro fotografia são assuntos nos quais diafragmas mais abertos, como f/5.6 e f/4, rendem melhores resultados, já que eles oferecem profundidade de campo menor.
Embora esta relação entre técnica e estética seja simples de ser entendida, ela esconde algumas variáveis importantes. Com uma abertura de f/22, por exemplo, a exposição pode exigir velocidades mais lentas de obturação, caso a cena tenha pouca iluminação. Dessa forma, a imagem pode ser registrada com algum arrasto, se algum objetivo em cena estiver em movimento, por exemplo. O pior é constatar que, mesmo nas aberturas mais fechadas, a imagem pode ser registrada com áreas desfocadas, ou seja, que a profundidade de campo não foi suficiente para cobrir todo o objeto com foco. Quem trabalha com macro fotografia frequentemente tem surpresas como estas.
Além disso, o desempenho das objetivas nas aberturas mais fechadas também é menor. Devido à difração óptica que ocorre nas lentes, quanto menor for a abertura de diafragma usada, menor será a nitidez relativa de imagem (confira gráficos de exemplos nos testes de câmeras feitos por Fotografe).
Uma das soluções para se conseguir a melhor qualidade de imagem possível e ter controle total da profundidade de campo, ou seja, do que fica em foco e do que fica fora de foco na imagem, é usar uma técnica conhecida por DOF stacking (sem tradução para o português, mas pode ser entendida como “empilhamento de imagens com diferentes profundidades de campo”). Ela também recebe outros nomes como “Image Stacking”, “Focus Stack” ou ainda “Extended DOF”, cujo significado é o mesmo.
Ela consiste em registrar várias fotos na abertura mais nítida da lente (que nas DSLRs costuma estar entre f/4 e f/8), cada uma com o ponto de foco em uma posição diferente. Depois, no computador, um software faz a fusão destas imagens, gerando uma foto final com qualidade superior, se comparada com uma imagem registrada em um único clique.
A técnica de superposição de imagens digitais não é novidade. Os recursos de HDR e fotos panorâmicas, por exemplo, já disponíveis nativamente em algumas câmeras e que também podem ser feitos na pós-produção, já usam o procedimento com múltiplas fotos.
Contudo, a superposição de imagens para o controle da profundidade de campo começou a ter resultados com qualidade há pouco tempo. Só com os últimos avanços nos algoritmos de processamento, atualizados há não mais de um ano, os resultados tornaram-se satisfatórios. Atualmente, já é possível contar com a DOF stacking para trabalhos profissionais e, ainda melhor, com equipamentos e softwares bem acessíveis. Veja como fazer.

A técnica de DOF stacking foi desenvolvida inicialmente para trabalhos científicos, que demandam imagens macro com a maior qualidade possível. Por isso, boa parte dos softwares de processamento foi desenvolvida por institutos de pesquisa acadêmica (veja uma lista no final deste tutorial). Porém, a técnica pode ser usada para diferentes situações de foto, com qualquer tipo de objetiva, além de ser possível utilizar o Photoshop (a partir da versão CS4) para esta tarefa. Outro programa muito eficaz para DOF stacking é o Helicon Focus (confira as duas opções a seguir).
Para ambas as opções, o procedimento inicial é o mesmo: como a cena será registrada várias vezes para depois ser mesclada em uma única imagem, é importante que os disparos sejam feitos com a mesma exposição.
Fixar a câmera em um tripé também é essencial para gerar fotos com o enquadramento idêntico, o que é muito importante. Para evitar trepidações no registro, utilize um cabo disparador ou um controle remoto. Caso não tenha nenhum destes acessórios, conte com a função de temporizador (timer), para registrar a foto alguns segundos após apertar o botão disparador. O recurso de levantar o espelho antes de fazer a foto (“mirror up” ou Mup) também ajuda a evitar movimentos indesejados durante a captura.
Com a exposição regulada para a abertura de maior nitidez (teste, por exemplo, f/5.6) e a cena enquadrada, o próximo passo é ajustar o foco, que deve ser feito manualmente. Regule o ponto de foco na posição do objeto mais perto da câmera e faça a foto (imagem 1). Naturalmente, com a abertura f/5.6, haverá um plano em foco e o restante dos planos na imagem (antes e depois do ponto focado) estará desfocado.
Depois da primeira foto, gire levemente o anel de foco para mudar a posição para um pouco além e faça uma nova foto (imagem 2). Repita esse procedimento quantas vezes forem necessárias até que todos os planos de foco que deseja incluir na imagem final sejam fotografados (imagem 3).

Após fotografar todos os planos na abertura f/5.6 (ou qualquer outra que julgar mais nítida), transfira as imagens para o computador. A quantidade total de fotos depende do nível de detalhe desejado, da abertura usada e das dimensões do objeto fotografado (ou seja, da profundidade de campo pretendida). Neste exemplo da foto de uma orquídea, foram feitas 20 fotos sequenciais.
Para mesclar as imagens por meio do Photoshop, o processamento pode começar pelo Adobe Bridge. Selecione todas as imagens e clique no menu “Ferramentas > Photoshop > Photomerge” / “Tools > Photoshop / Photomerge” (imagem 4). Você pode pular esta etapa se acessar o menu Arquivo > Automatizar > Photomerge / “File > Automatizer > Photomerge” diretamente no Photoshop (esta função também permite gerar fotos panorâmicas a partir de várias imagens sequenciais).
Na janela do Photomerge, escolha o layout “Auto” e desmarque a opção “Misturar imagens juntas”/ “Blend images together” (imagem 5). Selecione todas as imagens e dê OK. Ao final do processo, o Photoshop retornará um arquivo com várias camadas. Selecione todas elas e siga até o menu “Editar > Mesclar camadas automaticamente” / “Edit > Auto-blend layers” (imagem 6). Dê OK na janela que irá aparecer, com a opção “Empilhar imagens” / “Auto stack images” selecionada.
Após o processo, que pode demorar alguns minutos, as regiões em foco de cada arquivo serão preservadas na imagem final, que ainda estará segmentada em camadas. Para finalizar, basta achatar o arquivo (menu “Camadas > Mesclar camadas” / “Layer > Merge layers”). Repare como a foto final (imagem 7) tem uma qualidade superior e com foco mais preciso que a mesma cena registrada por meio de um único clique, em f/22 (imagem 8). Neste exemplo foram utilizados arquivos JPEG, mas o processo pode ser feitos com imagens em RAW, para uma qualidade ainda maior.

Ainda que o Photoshop seja eficaz, fazer DOF stacking pelo Helicon Focus é um processo ainda mais prático. Isso porque o software traz um utilitário que funciona como um controle remoto da câmera, o qual ajuda – e muito – no momento de registrar as fotos sequenciais, com diferentes posições de foco.
Este utilitário chama-se Helicon Remote e tem compatibilidade apenas com DSLRs da Nikon e da Canon (o Helicon Focus funciona com fotos feitas em qualquer câmera). O funcionamento é muito simples: basta ligar a câmera ao computador via USB e acionar o programa. O software logo identificará o equipamento, que passará a funcionar em modo de Imagem ao vivo (Live view), mas a imagem que normalmente aparece no LCD será exibida no computador. Além disso, toda a regulagem de exposição e foco será por meio da interface do Helicon Remote, a partir da área Camera Settings (imagem 9).
Fazer o foco por meio do programa é um processo semelhante ao modo manual na câmera. Por meio das setas direcionais azuis de Focus Bracketing (imagem 10), regule o primeiro ponto de foco na região mais perto da câmera e clique no botão redondo “A”. Isso definirá o ponto de foco mais perto em relação à câmera (nearest point).
Depois, altere o ponto de foco para o plano mais distante do objeto, usando novamente as setas direcionais. Quando identificar na tela do computador o plano em foco desejado, clique no botão redondo “B” (farthest point). Os botões “A” e “B”, então, apresentarão um ícone de um cadeado, identificando que os planos foram definidos e a quantidade de fotos entre eles foi calculada (imagem 11). Neste segundo exemplo foram registradas 31 imagens para um objeto com cerca de 5 cm.
Clique, então, no botão “Start shooting”, localizado na barra de ferramentas superior. O programa comandará a câmera na captura de todas as fotos necessárias. Ao final, os arquivos serão transferidos ao computador diretamente. Concorde com a mensagem que pergunta se deseja ver as imagens no Helicon Focus e prossiga com o processo neste programa.
Na coluna intermediária da tela do Helicon Focus, selecione todas as fotos e clique no botão “Run” (imagem 12). O programa se encarregará de fazer todo o processo e, após alguns minutos, exibirá a imagem final. Selecione a aba “Saving” e clique no botão “Save to disk” para gravar o novo arquivo (imagem 13).
O desempenho do Helicon Focus é tão bom quanto o do Photoshop. Repare nos detalhes entre uma foto feita em com um único clique em f/22 (imagem 14) e a imagem gerada pelo programa (imagem 15).
Além de produzir imagens com alta qualidade e nitidez, a técnica de DOF stacking permite controlar exatamente a região em foco da foto, regulando também a porção em desfoque da imagem. Cada abertura de diafragma e cada objetiva resultarão em estéticas diferentes. Com a prática e paciência necessárias para o processo, você pode produzir macros surpreendentes como estas que ilustram o tutorial. O mesmo vale para temas variados, como paisagens, fotos de arquitetura, de jóias, de flores etc